terça-feira, 29 de julho de 2014

Ensino a distância ainda está em estágio infantil no Brasil, diz pesquisador

Ensino a distância ainda está em estágio infantil no Brasil, diz pesquisador 

O aprendizado via web já é uma realidade no Brasil, e isso é uma afirmação incontestável. Cada vez mais, investimentos são feitos por instituições de ensino para que se aprimorem as técnicas de Educação a Distância e cursos livres complementares ao currículo do aluno. 

O professor Julio Cezar Pauzeiro, diretor de cursos livres da Estácio de Sá, acompanha esse processo quase 24 horas por dia e concorda que a estrada ainda é longa. A certeza, entretanto, de que a internet é parte integrante e fundamental para o futuro da educação é de 100%. Esse é um movimento sem volta. Não há como pensar em evolução na educação sem que a gente fale em estar dentro de um ambiente online, interativo e com múltiplas possibilidades de ensino, dissea ao iG.

Na Estácio, os esforços de Julio estão direcionados para melhorias nos cursos livres já criados. Alguns pilares são importantes e elevam a qualidade do projeto. Nos modelos de cursos antigos na internet, ou você tinha uma apresentação em Power Point ou um texto em PDF, e o aluno lia, apertava o enter, lia, apertava o enter A gente não poderia embarcar nessa canoa, porque ela não vai navegar. Disso, deriva o processo de construção de conteúdo. Nós temos 14 etapas que são milimetricamente observadas, desde a geração de grau de importância desse conteúdo, passando pela leitura pedagógica, até a construção de um texto, afirmou.

No papo, o professor ainda comenta as tendências para o futuro do aprendizado na web, programas do governo, a qualidade dos cursos de idiomas e as barreiras da educação a distância. Confira:

iG: Já que estamos caminhando em terreno online, vamos falar sobre Educação a Distância. Qual é a sua avaliação hoje? Ainda existe preconceito com a EAD?Julio Cezar Pauzeiro: Esse é um movimento sem volta. Não há como pensar em evolução na educação sem que a gente fale em estar dentro de um ambiente online, interativo e com múltiplas possibilidades de ensino. Quando você olha o preconceito de certa maneira ainda existente com relação ao conteúdo online, ele em geral é lastreado em um modelo de ensino que é estático de operação e que, na verdade, tem a extensão do .com, mas muito mais na fala do que na prática. A nossa preocupação com o aluno que ainda possa se mostrar refratário, é de que ele é refratário porque conhece um modelo que é diferente daquele que a gente pratica. Ou o histórico recente dele não aponta para um ambiente interativo. Eu costumo dizer que o modo de comunicação mudou. E aí, o grande barato do convencimento no curso livre, em especial no formato a distânc ia, é possibilitar ao aluno a degustação e o teste daquilo do valor que ele vai comprar. Ele tem uma experiência de aprendizado interativa muito legal.

iG: Que talvez até supra a necessidade do contato real
Pauzeiro: Exatamente. Isso que nos torna diferente. É a preocupação que a gente teve em desenvolver um modelo, lastreado no que a gente fez de ensino e pesquisa nos últimos cinco anos, que possibilitasse ao aluno perceber que realmente é legal, que ele não vai estar apenas lendo um PDF ou dando avançar em um documento. A gente foi muito além da leitura.

iG: Falta, então, na sua opinião, essa divulgação? Talvez ainda estejamos muito presos ao modelo inicial de cursos a distância?
Pauzeiro: Possivelmente. Na verdade, esse mercado de ensino a distância, em especial para cursos livres, é ainda um mercado em estágio infantil. E quando digo isso, quero dizer que é um mercado em construção. E como em todo mercado em desenvolvimento, você precisa de um processo de convencimento um pouco maior. É o que acontece quando você entra em um mundo novo. Quem diria, há alguns anos, que nós teríamos computadores pessoais, telefones móveis? Você tem operações que evoluíram numa linha muito rápida e que, naturalmente, romperam muitos preconceitos. Obviamente é um processo de convencimento e uma construção bem bacana, e eu digo que tem público. Eu tive três milhões e meio de acessos em seis meses (no portal de cursos livres da Estácio). A nossa operação hoje já é a segunda mais vista do Brasil em cursos livres. É um modelo, portanto, que se mostra sustentável pela leitura que a gente tem.

iG: Essa adesão é geral? Você consegue avaliar a questão geográfica do produto?
Pauzeiro: Sim, e eu vejo que a distribuição geográfica já não é mais uma restrição. Pela internet, eu consigo atender o Brasil inteiro sem constrangimento e isso me deixa muito feliz como educador, porque eu começo a perceber claramente que as fronteiras de ensino caíram. A geografia já não é mais um impeditivo para que você evolua intelectualmente.

iG: Sobre as ferramentas de ensino, o que você tem visto de inovador, de diferente, nesse mercado? Quais são as tendências?
Pauzeiro: Eu costumo dizer que a inovação já nasce morta. Você cria e, no minuto seguinte, ela já é um passado ainda que recente. Quando a gente olha a educação, o meu grande desafio na Estácio era: o que vou trazer de novo para um mercado que ainda é infantil, mas que já tem muitos players atuando, um mercado em que meu consumidor especificamente ainda não sabe o que ele precisa?

iG: E como isso foi feito?
Pauzeiro: O planejamento estratégico passou por buscar ferramentas de tecnologias interativas e novas, e que levassem o ensino com uma forma mais didática e própria para essa nova geração. Eu tenho um filho de 23 anos, e ele faz 50 coisas ao mesmo tempo e entende todas. Eu fico impressionado. Ele virou meu objeto de estudo. Como prender a atenção desse jovem? Ele é uma parte representativa do meu comprador. A gente não pode entregar algo que ele já não utiliza mais. Então, pesquisamos formas de compreensão pedagógica que utilizassem uma parte visual gráfica mais interativa e moderna. Nos modelos de cursos antigos na internet, ou você tinha uma apresentação em Power Point ou um texto em PDF, e o aluno lia, apertava o enter, lia, apertava o enter A gente não poderia embarcar nessa canoa, porque ela não vai navegar. Disso, deriva o processo de construção de conteúdo. Nós temos 14 etapas que são milimetricamente observadas, desde a geração de grau de importância desse conteúdo, p assando pela leitura pedagógica até a construção de um texto que eu chamo de doce. Ele passou por uma leitura, foi transformado em um texto mais adequado para aquele público que a gente quer, depois passou pela mão de um designer institucional que foi quem transformou esse texto em storyboard, e que a partir daí montou a parte gráfica. Depois disso tudo pronto é que a gente vai identificar o grau de plataforma e de interatividade que a gente vai criar. Cursos diferentes exigem formatos diferentes e plataformas igualmente diferentes, mas todas elas inovadoras.

iG: Pensando no futuro, o que você espera para a área da educação?
Pauzeiro: Considerando a abrangência do vocábulo livre e sua amplitude, acho que a grande dificuldade que a gente tem é delimitar suas fronteiras, é entender o que a gente quer e para onde a gente vai. E não tenho dúvida de que o futuro da educação passa pela internet. Quando eu olho o público, de forma geral, e você olha a quantidade de celulares que o Brasil tem, isso passa efetivamente por transformar esse modelo de operação. Mais pessoas vão ter acesso à tecnologia, novas tecnologias vão surgir, as distâncias vão estar cada vez mais curtas, as pessoas cada vez mais interativas E muito possivelmente, a gente começa a construir de novo um modelo novo no campo da inovação.

iG: O desafio, portanto, é acompanhar essa evolução?
Pauzeiro: Talvez o grande dilema desses próximos passos seja continuar avançando na mesma velocidade que as tecnologias de informação avançam, porque eu preciso me apropriar desse capital intelectual novo e a partir dele gerar novas possibilidades. Talvez esse seja o momento da educação, de você chegar nas novas fronteiras, com as tecnologias, para pessoas que nunca imaginaram que fariam algo nessa linha. Difundir a educação não está só em um processo meu de realização pessoal como educador, mas ele reside na minha interpretação de que formarei melhores pessoas para um país melhor, para um futuro melhor.

Fonte: Último Segundo - IG

sexta-feira, 18 de julho de 2014

{POLÊMICA] PEC que proíbe demissão à Mãe adotante ... e os homens?

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara aprovou (15/07) proposta que estende às mães adotantes a estabilidade no emprego hoje assegurada à gestante. A Proposta de Emenda à Constituição - PEC 146 - foi apresentada pelo deputado Benjamin Maranhão (SDD/PB) em 2012, mas estava parada até agora.

Atualmente, a Constituição Federal proíbe a dispensa arbitrária desde o início da gestação até cinco meses após o parto. Na nova redação, a estabilidade da adotante será garantida também por cinco meses a contar da adoção ou da guarda.

A mudança é justa, mas pode deixar de fora os homens que adotarem crianças e que recentemente conquistaram o direito à licença de 120 dias paga pelo INSS. Sancionada em outubro/2013, a Lei 12.873 beneficiou principalmente homens solteiros e casais homoafetivos.

A Lei também igualou a duração da licença, que passou a ser de 120 dias, independente da idade da criança e permitiu a transferência do benefício ao companheiro ou companheira, em caso de morte do segurado ou da segurada. veja mais

A mudança teve consequência direta na Campanha Salarial dos professores e auxliares de educação básica. Na nova Convenção Coletiva, a estabilidade de 60 dias, a partir do fim da licença, passou a ser assegurada também na adoção, para mulheres e homens.

Na verdade, a Justiça já vinha garantindo esses direitos, adequando-se às novas configurações familiares e reconhecendo a igualdade entre quem dá à luz e quem adota.

A PEC 146 pode fazer o mesmo. Basta que uma emenda altere a redação.

Tramitação
A proposta agora precisa ser analisada por uma Comissão Especial para depois ser votada pelo plenário da Câmara, em dois turnos. A Comissão ainda precisa ser criada, o que dificilmente ocorrerá em 2014.

Entretanto, como a PEC já passou pela CCJC, ela continuará em tramitação na próxima legislatura. É bom começar a pressão agora para que a proposta não fique congelada por mais dois longos anos.

Convenção Coletiva
A mudança na legislação previdenciária ocorrida em outubro/2013 teve consequência direta na Campanha Salarial dos professores e dos auxliliares de educação básica, em 2014. Uma das reivindicações acabou incluída na nova Convenção Coletiva: a estabilidade de 60 dias a partir do fim da licença foi assegurada também em caso de adoção, para homens e mulheres.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Inovação e Aprendizagem Independente na Educação.


"Há algo em comum entre as crianças e os filósofos:
a capacidade de se maravilhar com o mundo"
(Mattew Lipman, 1990)

O ensino de filosofia para crianças, que se tornou pauta com os estudos de Lipman, mostra a necessidade de manter a criança interrogando o mundo e o conhecimento, atenta aos movimentos do universo e não acomodada a verdades pronunciadas por adultos/professores. Manter o aluno intrigado e torná-lo pensador são objetivos da filosofia. Pode-se incluir a esses objetivos outro tema contemporâneo que tem intenção semelhante: a inovação. Como parte integrante da educação fundamental, o tema tem o intuito de manter a criança admirada com o mundo, atenta às suas modificações, disposta a pensar e criar novas possibilidades de viver neste mundo em constante transformação. Com isso, a pertinência de explorar uma metodologia compatível e inovadora conhecida como aprendizagem independente mostra-se imprescindível. Inovação e aprendizagem independente, a exemplo de filosofia para crianças, podem e devem ser elementos progressivamente presentes no cenário da educação básica.

A principal característica da abordagem de aprendizagem independente é propiciar cada vez mais a autonomia ao educando, sendo elemento-chave a adoção do estímulo ao "aprender a aprender", e ter o aluno como referência principal e como centro dos processos de ensino e de aprendizagem.

Assim, corroborando com a teoria piagetiana (Piaget, 1953), em que a ênfase é no "como aprender" (procedimento) e não no "o quê aprender" (conteúdo), a aprendizagem independente incorpora as novas tecnologias, entende que os conteúdos estão disponibilizados incessante e indiscriminadamente, e que o sujeito pode acessá-los a qualquer tempo e de qualquer lugar. Porém, o setor educacional tem sido impactado com relativo atraso, comparado aos demais setores sociais.

Ainda que já estejam disponíveis as novas tecnologias em instituições de ensino, mesmo as mais sofisticadas, permitindo um nível de possibilidades e interatividade sem precedentes, a utilização em sala de aula é ainda raquítica, se comparada com o uso em outros ramos da atividade humana, fazendo com que a educação experimente estar relativamente distante da fronteira em termos de apropriação de novidades tecnológicas.

Educação e inovação estão fortemente conectadas, sendo que um país cuja força de trabalho não estiver devidamente preparada para os desafios de um mundo que tem na inovação o elemento diferencial mais relevante, não terá como competir globalmente. Profissionais cujas formações educacionais permitirem apenas trabalhos manuais simples e de baixa complexidade estarão totalmente deslocados, com muitas dificuldades em obter níveis de satisfação e de sucesso desejados. Consequentemente, o baixo nível educacional e as metodologias não compatíveis com as demandas do mundo contemporâneo podem limitar, de forma definitiva, as possibilidades de uma nação ter um desenvolvimento econômico e social sustentável.

Educação para inovação é um tema recente, globalizado e ainda sem respostas claras ou receitas definitivas. Os vínculos entre esses dois temas, ainda que sempre tenha existido ao longo da história, nunca tiveram a dimensão e a relevância que têm hoje, demandando serem explorados com extrema cautela e profundidade, com especial atenção a como o conhecimento é produzido atualmente e como ele tem sido transmitido por meio das metodologias tradicionais de ensino e de aprendizagem.

As pessoas possuem uma formação permanente, ou seja, há sempre o anseio pelo novo que faz buscar incessantemente sua atualização que se desatualiza também permanentemente. Aprender na escola e fora dela já faz parte da rotina da nova geração e os alunos somente poderão estar preparados para os desafios futuros se, ao longo da vida, estiverem sendo preparados para explorar suas máximas potencialidades. Para tanto, precisam adquirir conhecimentos para, sincronicamente, desenvolver uma gama de habilidades que os habilitem plenamente em tarefas necessárias tais como leitura, escrita, matemática e ciências, complementadas por outras que se mostram também necessárias, como capacidade de resolver problemas, ética, autoconfiança, pensamento crítico, comunicação interpessoal, iniciativa, liderança, colaboração e trabalho em equipe. Assim, o tradicional e o novo se completam, gerando a possibilidade de construção do conhecimento em novos padrões. Ou seja, elementos como inovação, criatividade e ética estão mais presentes do que nunca. Como consequência, educar não está ficando mais simples, se tornou mais complexo.

Sem prejuízo dos conteúdos tradicionais, incluindo letramento, matemática e gosto pela ciência, pelas artes e pelos esportes, teremos que desde cedo explorar nos alunos novas habilidades como elementos de autonomia, incorporando a abordagem de aprendizagem independente como método de induzir o "aprender a aprender". Por exemplo, as atitudes que podem estimular a capacidade de tratar temas complexos podem começar tão cedo quanto o hábito de ir à escola, ou mesmo antes disso. O uso de tecnologias digitais permite aos estudantes experiências extra, antes ou depois das aulas regulares, pode ser algo menos complicado e mais estimulante do que os educadores possam imaginar, dado estarmos falando de seres que são absolutamente nativos digitais.

Aprender na instituição de ensino e fora dela já faz parte da rotina da nova geração e os espaços de aprendizagem transcenderam a escola, o tempo, a exemplo do espaço, virou qualquer, e o cenário é de educação permanente ao longo da vida.

Finalizando, ampliando a correta observação de Mattew Lipman (1990) que abre este texto, há mesmo muito em comum entre as crianças, os jovens, os filósofos e os inovadores em geral: a capacidade de se maravilhar com o mundo e querer transformá-lo. Olhar com olhos de estranhamento e não de acomodação, pode fazer com que a nova geração vislumbre novos problemas e novas soluções, criando e inventando novos caminhos. A Educação tem muito a contribuir com essa tarefa.


Ronaldo Mota - Fundador da empresa britânica EdUKationBr. Foi Secretário Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e Ministro Interino do Ministério da Educação.